Os Ostrogodos

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Rogério Cardoso
publicado em 17 Setembro 2019
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Mausoleum of Theodoric, Ravenna (by F. Tronchin, CC BY-NC-SA)
Mausoléu de Teodorico, Ravena
F. Tronchin (CC BY-NC-SA)

Os ostrogodos eram a tribo oriental dos godos (um povo germânico), que ascendeu ao poder na área ao norte do Mar Negro. A designação ostrogodo, usada para designar os "godos orientais", significa na verdade "godos glorificados pelo sol nascente", tendo sido cunhada e reinterpretada ao mesmo tempo que o termo visigodo (interpretado como "godo ocidental") pelo escritor romano Cassiodoro (c. 485-585 d.C.) para diferenciar duas populações godas distintas. Os ostrogodos, ao que parece, eram conhecidos originalmente como Greuthungi (também como Greutungi), conforme os relatos do historiador romano Amiano Marcelino no século IV d.C. e do historiador godo Jordanes no século VI.

Cassiodoro viveu entre os ostrogodos e serviu ao seu rei Teodorico, o Grande (r. 493-526 d.C.). Numa tentativa de simplificar a designação das tribos germânicas que se dirigiram para o oeste e diferenciá-las daquelas que permaneceram mais ao leste, Cassiodoro, deliberada ou erroneamente, interpretou o termo ostrogodos como "godos orientais", de modo que os demais se tornassem os "godos ocidentais", porém tais povos não pensavam dessa forma. Os visigodos, com o tempo, aceitariam e aplicariam esse termo a si mesmos, enquanto os ostrogodos, de há muito, já conheciam a si mesmos por esse nome, cuja acepção original era distinta; com efeito, nenhuma das tribos se considerava originalmente godos "orientais" ou "ocidentais".

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Teodorico, o Grande, fundou o Império Ostrogodo, mas os seus sucessores entraram em conflito com o Império Bizantino.

Os godos apareceram pela primeira vez na história quando viviam na área ao redor do Mar Negro. Eles fizeram constantes incursões contra as províncias romanas e trouxeram persistentes e ininterruptos incômodos ao império até a invasão dos hunos em 375 d.C. Uma grande parte da população (segundo algumas fontes, 200.000 indivíduos) fugiu da área para buscar a proteção do Império Romano, sob o imperador Valente (r. 364-378). Tais indivíduos ficaram conhecidos como os visigodos. O resto do povo permaneceu e resistiu ao domínio dos hunos, mantendo um certo grau de autonomia.

Após a morte de Átila, o Huno, em 453 d.C. e a dissolução do seu império, os ostrogodos declararam independência. Mais tarde, sob a liderança de Teodorico, o Grande, eles migraram para a Itália e lá se estabeleceram. Teodorico fundou o Império Ostrogodo, mas os seus sucessores entraram em conflito com o Império Bizantino, que enviou o general Flávio Belisário (505-565) para recolocar os godos na linha conforme os interesses bizantinos. O último grande rei godo, Tótila (r. 541-552), liderou a resistência contra os bizantinos, mas, após a sua morte em 553, os ostrogodos perderam sua autonomia e identidade étnica, fundindo-se com povos da Itália e com os lombardos e dispersando-se por regiões hoje pertencentes à França e à Alemanha modernas.

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Origem e Identidade

Os godos – aqueles que mais tarde ficariam conhecidos como ostrogodos e visigodos – originaram-se, provavelmente, na área em torno de Gdańsk, na Polônia, antes de começarem a migrar para regiões da Alemanha e da Hungria modernas. No entanto, tal afirmação acerca de um lugar de origem é fortemente questionada, de sorte que estudiosos como Peter Heather argumentem de modo favorável a ela, enquanto outros como Michael Kulikowski argumentam de modo contrário.

A dificuldade em estabelecer um lugar de origem e uma identidade cultural para os godos consiste no fato de que eles não tinham uma história escrita anterior ao seu envolvimento com Roma. Tudo o que se sabe dos godos vem de escritores romanos (excetuando-se, é claro, as evidências físicas trazidas à luz pela arqueologia moderna). Estudiosos como Kulikowski e Walter A. Goffart salientam que, como não se pode saber, ao certo, nada sobre a história dos godos antes dos historiadores romanos, quaisquer afirmações concernentes às suas origens e identidade étnica – afora as afirmações desses próprios historiadores – são mera especulação. Tais estudiosos também afirmam, com alguma razão, que narrativas baseadas em evidências físicas continuam sendo especulativas, uma vez que a evidência é interpretada à luz de uma narrativa acadêmica preexistente, e não de maneira objetiva.

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Map of Europe, 400 CE
Mapa da Europa, 400 d.C.
Thomas Lessman (CC BY-SA)

Noutras palavras, segundo esses estudiosos, os arqueólogos que assim interpretam certos achados como as 3.000 tumbas góticas na Pomerânia Oriental, na Polônia (a chamada Cultura de Wielbark descoberta em 1873), tendem a olhar para a evidência à luz da obra de Jordanes no século VI, a Getica, que traz uma história dos godos, e a ignorar outras possibilidades. A afirmação de que a descoberta da Cultura de Wielbark "prova" um lugar de origem para os godos é, portanto, insustentável, pois é igualmente provável que a área escavada fosse um assentamento godo fundado depois de eles terem deixado a sua terra natal.

Peter Heather e outros argumentam que a obra de Jordanes – embora faça amplo uso de mitos e lendas – ainda assim fornece fatos históricos o bastante para ser usada como referência. Além disso, como a Getica de Jordanes foi baseada numa obra anterior de Cassiodoro, e como Cassiodoro conhecia a história dos godos em primeira mão por ter sido escriba na corte de Teodorico, deve-se ter mais consideração pela obra de Jordanes, em vez de simplesmente descartá-la porque o autor tenha sentido a necessidade de amplificar a sua narrativa, em alguns pontos, com eventos mitológicos ou fantásticos.

Heather afirma que os godos não devem ser entendidos como um grupo étnico unitário, mas, em vez disso, como uma confederação de povos que compartilhavam os mesmos interesses e objetivos e que tinham, mais ou menos, a mesma origem ou uma origem similar. Eles não eram necessariamente, afirma Heathen, um único e inquebrável bloco étnico que tinha as mesmas crenças, comportamentos e modos de vida desde a época em que estavam na Polônia até entrarem na história romana. Os primeiros godos poderiam ter sido bem diferentes daqueles mais tarde conhecidos pelos historiadores romanos. Heathen escreve:

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Uma visão básica de grupos fechados e biologicamente autorreprodutivos movendo-se intocáveis pelo mapa da Europa, cada qual com as suas próprias e distintas culturas, não faz jus nem às evidências, nem às complexidades de um comportamento humano observável, explorado numa variedade de contextos comparativos... Os tratamentos modernos e mais gerais acerca da identidade no período de migração tendiam, naturalmente, a enfatizar que ela era fluida, sujeita à escolha individual, e, ao menos, potencialmente múltipla. (Barnish & Marazzi, 55).

Se os godos eram um único povo ou uma coalizão, isso continua a ser debatido.

De modo mais simples, Heathen afirma que os "godos originais" teriam interagido com outras tribos durante a sua migração – realizando casamentos intertribais e assimilando aspectos de diferentes povos –, de modo que a sua "goticidade" não fosse propriamente uma questão étnica, mas uma questão de interesses compartilhados. Heather enfatiza que havia "inúmeros não godos incorporados, em diferentes épocas, aos seguidores de Teodorico", reforçando a afirmação de que os "godos" eram provavelmente uma confederação, e não um povo, muito antes do reinado de Teodorico (Barnish & Marazzi, 57).

Se os godos eram um único povo ou uma coalizão, isso continua a ser debatido. É, todavia, consensual, com base nas obras dos historiadores romanos, que os godos apareceram perto das fronteiras do império no século III d.C. e que lançaram a sua primeira incursão militar contra Roma em 238 d.C. Depois disso, os godos aparecem regularmente na história romana, tanto como antagonistas quanto como mercenários no exército romano.

Visigodos, Ostrogodos e Hunos

Os godos que mais estreitamente interagiram com Roma foram os visigodos, já que os ostrogodos permaneceram mais ao leste, na região da atual Hungria. Quando Átila, o Huno (r. 434-453 d.C.), chegou ao poder, ele tomou a terra dos ostrogodos, anexando-a ao seu crescente território. Os visigodos foram dispersados pelas invasões hunas e empurrados em direção às terras romanas, porém os ostrogodos permaneceram onde haviam estado.

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Com a morte de Átila em 453 d.C., os ostrogodos declararam a sua independência e juntaram-se a outra tribo germânica, os gépidas, sob a liderança de Ardarico (c. 450 d.C.). Na Batalha de Nedao, em 454 d.C., os gépidas liderados por Ardarico derrotaram os filhos de Átila com o apoio dos ostrogodos (embora não esteja precisamente claro de que modo os ostrogodos contribuíram para a vitória), de sorte que os antigos vassalos do império de Átila estivessem livres e se assentassem na Panônia.

Army of Attila the Hun
Exército de Átila, o Huno
The Creative Assembly (Copyright)

Os ostrogodos eram liderados à época pelo rei Valamiro (c. 420-469 d.C.), que, assim como Ardarico, havia sido um dos generais de Átila. Os ostrogodos de Valamiro deram continuidade às políticas do rei huno e invadiram territórios romanos, para exigir proteção ou dinheiro. Em 459 d.C., ele invadiu a Ilíria e depois exigiu do imperador oriental Leão I (r. 457-474 d.C.) o pagamento de 300 libras de ouro, como tributo anual, a fim de evitar que ele o fizesse de novo. Valamiro morreu em 469 d.C., depois de ser arremessado do seu cavalo, e foi sucedido por Videmiro (c. 460 d.C.) e, na sequência, por Teodomiro (m. 474 d.C.), pai de Teodorico, o Grande. Teodomiro acordou a paz com Roma, porém o jovem Teodorico foi enviado a Constantinopla como refém para assegurar o cumprimento do acordo. O príncipe foi bem tratado na cidade e foi educado na corte segundo os valores greco-romanos.

Teodorico e Seus Sucessores

Em 474 d.C., Teodorico (conhecido como Teodorico, o Grande) tornou-se rei dos ostrogodos. À época, ele era não só um guerreiro campeão a serviço do imperador Zenão (r. 474-475, 476-491), como também era uma ameaça devido à sua popularidade e às suas habilidades marciais. Teodorico queria obter terras para o seu povo, porém o imperador bizantino não estava interessado em dar-lhe terra nenhuma; ao mesmo tempo, o monarca percebeu que precisava fazer alguma coisa antes que Teodorico simplesmente tomasse o que queria. Destarte, Zenão encontrou uma maneira de resolver dois dos seus problemas de uma só vez: ele enviaria Teodorico à Itália para depor o rei Odoacro (r. 476-493 d.C.), que vinha causando problemas ao imperador, e deixaria o rei ostrogodo tomar quaisquer terras que quisesse posteriormente.

Entre 488 e 493 d.C., com o apoio do Império Bizantino, Teodorico conquistou a Itália. Ele derrotou Odoacro, fingiu oferecer-lhe termos de paz e depois o matou, fundando, em 493 d.C., o Império Ostrogodo, que se estenderia da Sicília à França e a partes da Espanha moderna, passando pela Itália. No reinado de Teodorico, o império floresceu, e, ao mesmo tempo, a arte, a literatura e a cultura romanas foram adotadas. Conquanto a sua campanha tenha sido financiada pelos bizantinos, Teodorico governou o seu império de maneira independente e manteve relações amigáveis com Constantinopla.

Nuremberg Chronicle (Theodoric and Odoacer)
Crônica de Nuremberg (Teodorico e Odoacro)
Schedel1 (Public Domain)

Ele impôs uma política de tolerância religiosa para pacificar as tensões entre o povo residente na Itália, que era majoritariamente cristão niceno, e os ostrogodos, que haviam aderido ao Cristianismo Ariano. Além disso, ele fez reparos nos danos causados pelas guerras ocorridas entre 488 e 493 d.C., replantando florestas e restaurando cidades, bem como alargando canais de irrigação e incentivando o cultivo das terras. Todos os seus súditos eram considerados iguais perante a lei e submetidos aos mesmos impostos segundo o seu programa de tributação. Tendo-se consolidado como um grande rei, ele sentiu a necessidade de criar para si um passado ilustre a fim de legitimar a sua autoridade. Foi quando ele incumbiu o seu principal escriba, Cassiodoro, de escrever a história dos godos.

Teodorico fomentou a educação e a alfabetização do povo, bem como daqueles mais próximos de si – o filósofo Boécio (480-524 d.C.), famoso pela obra A Consolação da Filosofia (Consolatio Philosophiae), era membro da corte de Teodorico – e criou programas de emprego que não apenas melhoraram vilas e cidades, como também geraram oportunidades de trabalho. Sob Teodorico, a Itália e as demais regiões do seu império floresceram, mas tal prosperidade não sobreviveria após o seu reinado.

Sob Teodorico, a Itália e as demais regiões do seu império floresceram, mas tal prosperidade não sobreviveria após o seu reinado.

Após a morte de Teodorico em 526, sua filha Amalasunta (c. 495-535) governou como regente no lugar do jovem filho Atalarico, mas, após a morte deste em 534, ela tornou-se rainha. Amalasunta era uma administradora capaz, que cultivava os mesmos valores greco-romanos do pai, porém, como não havia sido nomeada herdeira ao trono, ela precisava legitimar a sua posição. A rainha, então, buscou o apoio do imperador Justiniano I (r. 527-565) para consolidar a sua autoridade, temendo possivelmente um golpe por parte de um dos seus cortesãos.

Não obtendo de Justiniano I uma resposta com a rapidez desejada, Amalasunta convidou seu primo, Teodato (m. 536), para reinar junto com ela. No entanto, confiar em Teodato foi um trágico erro de sua parte, pois o primo acreditava ser o legítimo herdeiro ao trono, razão pela qual mandou assassinar Amalasunta em 535 d.C. Depois, o genro dela, Witiges (também conhecido como Vitiges, r. 536-540), assassinou Teodato e foi coroado rei em 536.

As Guerras Ostrogóticas

Witiges era um rei fraco cujos funcionários fiscais, conhecidos pela denominação de λογοθέτης (logothétēs) ou logóteta, elevaram os impostos e embolsaram boa parte do dinheiro. Especialmente notório foi um logóteta conhecido como Alexandre, o Tesoura (assim chamado porque o consideravam tão ganancioso, que ele poderia talhar mui habilmente uma moeda de ouro, sem que os funcionários do tesouro jamais o notassem). Os ostrogodos vinculados ao exército recebiam pagamentos menores que os demais e careciam de oportunidades de promoção; além disso, as pensões dos veteranos não foram pagas. O desemprego estava tão galopante que as pessoas começaram a instigar uma revolta contra o governo apoiado pelo Império Bizantino.

A fervilhante agitação na Itália frustrou Justiniano I, que decidiu enviar o famoso general Flávio Belisário ao local para colocar a região de volta na linha conforme o interesse do Império Bizantino. Belisário tomou a Sicília em 535 e, depois, Nápoles e Roma em 536. Mais tarde, em 540, ele tomou Ravena e capturou Witiges. Justiniano I, então, ofereceu os seus termos aos derrotados ostrogodos por meio de Belisário (embora o imperador não tivesse a intenção de honrá-los). Segundo os termos oferecidos, eles poderiam manter um reino independente na Itália e dar-lhe apenas metade do tesouro, em vez de dar-lho por completo. Belisário, de maneira reservada, opôs-se à oferta, mas, no fim, cumpriu o seu dever de soldado e retransmitiu os termos aos godos.

Belisarius
Belisário
Eloquence (CC BY-SA)

Os godos não confiavam em Justiniano nem na sua oferta, mas decerto confiavam em Belisário, que havia consistentemente tratado os godos com retidão e piedade durante a sua campanha. Eles disseram que aceitariam os termos se Belisário os endossasse, mas, como o general bizantino não conseguiria fazê-lo com a consciência tranquila, as negociações de paz foram interrompidas. Uma facção da nobreza encontrou uma maneira de contornar todo o problema, oferecendo a coroa do Império Ostrogodo ao próprio Belisário. Este, porém, por ser leal a Justiniano, fingiu aceitar a oferta, acompanhou todos os preparativos para a sua coroação em Ravena e, então, mandou prender os mentores do movimento dentre os nobres, reivindicando todas as terras ostrogodas, bem como o seu tesouro, em nome de Justiniano.

Justiniano, desconfiado que estava das motivações de Belisário e receoso de sua duradoura popularidade entre os godos, bem como entre os seus soldados, mandou chamá-lo de volta para liderar tropas contra os persas e colocou um oficial bizantino na Itália para governar os godos. Todavia, como os ostrogodos já estavam cansados dos abusos do governo, eles passaram a desejar um rei próprio. Assim, promoveram o nobre ostrogodo Erarico ao trono, mas ele se mostrou demasiado egocêntrico e também tão fraco quanto Witiges, motivo pelo qual acabou assassinado em 541. Os godos, então, escolheram como rei um líder militar nacionalista chamado Baduila (mais conhecido pelo seu nome de guerra, Tótila, r. 541-552).

Tótila

Tótila não tinha interesse em negociar com os bizantinos e esperava que o deixariam em paz para governar o seu povo do mesmo modo como haviam deixado Teodorico, o Grande, governar. No entanto, Justiniano I não pretendia deixar isso acontecer e, por isso, enviou um exército comandado por onze generais para enfrentar Tótila, na cidade de Verona, em 542. Os generais, porém, estavam mais preocupados com as suas próprias parcelas dos espólios de guerra e acabaram discutindo entre si, em vez de fazer avançar a coluna em direção à cidade. Isso deu a Tótila o tempo necessário para arranjar habilmente as suas forças e esmagar os bizantinos num movimento de pinça, destruindo-os.

A vitória de Tótila atraiu mais recrutas para o seu exército, o que lhe permitiu lançar uma guerra para conquistar toda a Itália e colocá-la sob seu controle. O cavalheirismo em batalha e a piedade dele para com as tropas derrotadas ocasionaram enormes deserções, dentre as forças imperiais, para o seu lado. Depois que Tótila tomou Nápoles em 543, as tropas auxiliares bárbaras de Justiniano I desertaram e se juntaram ao líder ostrogodo. Em 545, ele sitiou a própria Roma, que, embora não fosse mais a potência de outrora, ainda mantinha um significado simbólico para o Império Romano do Oriente.

Totila, King of the Ostrogoths
Tótila, Rei dos Ostrogodos
The Walters Art Museum (CC BY-SA)

Roma foi tomada, e Tótila ofereceu a Justiniano I os seguintes termos: o imperador poderia interromper a guerra e deixar Tótila em paz, ou Tótila mataria os senadores que ele mantinha cativos e depois destruiria a cidade. Belisário (seja por ordem de Justiniano I, seja por iniciativa própria) escreveu ao líder ostrogodo uma carta na qual explica a impossibilidade de cumprir tais exigências, bem como a insensatez do seu plano. Tótila não poderia governar a Itália, explicou Belisário, porque ela pertencia ao Império Bizantino, logo Justiniano I não estava interessado em abrir mão dela. Além disso, se ele desse prosseguimento a esse plano de destruir Roma, seu nome ficaria para sempre associado à destruição da cidade. Do jeito como as coisas estavam até aquele momento, Tótila era tido em alta conta como um adversário cavalheiresco e um vencedor piedoso; se ele destruísse Roma, porém, o seu bom nome estaria arruinado.

Tótila cometeu o primeiro e mais significativo erro da guerra ao ouvir o conselho de Belisário para abandonar o referido plano. Ele deixou Roma como a havia encontrado e prosseguiu sua marcha. Belisário, então, ocupou-a, fez reparos nos muros e fortificou-a contra quaisquer ataques futuros. O general bizantino, depois, enfrentou Tótila várias vezes, até que Justiniano I outra vez o chamasse de volta e o substituísse pelo general Narses (c. 480-573), que não tinha a habilidade nem o refino de Belisário, mas que era, ainda assim, um líder muito competente. Tótila foi morto em combate na Batalha de Tagina, em 552, e, no ano seguinte, a sua insurreição foi completamente esmagada na Batalha do Monte Lactário, em 553. Assim, a Itália estava novamente sob controle direto do Império Bizantino.

Conclusão

Conquanto a guerra tenha continuado com o filho de Tótila, apoiado pelos seus aliados francos, ele foi ulteriormente esmagado por Narses. As insurreições posteriores também fracassaram. Em 562, o nome ostrogodo já havia desaparecido, e uma parte significativa da população ostrogoda já havia se dispersado pelos territórios da França e da Alemanha modernas. Com a terra despovoada e devastada por 18 anos de guerra, os lombardos, outra tribo germânica, conquistaram facilmente o norte da Itália em 568, sob comando do rei Alboíno (r. 560-572). Os ostrogodos remanescentes na Itália se aliaram aos conquistadores.

Anteriormente, os lombardos haviam sido aliados do Império Romano do Oriente e servido no exército imperial contra as tropas de Tótila. Quando eles chegaram à Itália na condição de invasores, encontraram-na deserta em grande medida e foram recebidos pelos ostrogodos, de certa forma, com a esperança de que restaurariam a terra. Os lombardos, começando com o rei Alboíno, assim o fizeram e conseguiram manter o Reino Lombardo pelos próximos 200 anos. As culturas dos lombardos, dos romanos e dos ostrogodos gradualmente se assimilaram umas às outras e fizeram surgir o povo da Itália moderna.

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Sobre o tradutor

Rogério Cardoso
Rogério Cardoso nasceu em Manaus, Brasil, onde inicialmente obteve um grau em Letras Portuguesas, e mais tarde se mudou para São Paulo, onde obteve um grau de mestre em Filologia Portuguesa. Ele é um entusiasta da História.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2019, Setembro 17). Os Ostrogodos [Ostrogoth]. (R. Cardoso, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-708/os-ostrogodos/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Os Ostrogodos." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. Última modificação Setembro 17, 2019. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-708/os-ostrogodos/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Os Ostrogodos." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 17 Set 2019. Web. 30 Abr 2024.