Cristianismo Primitivo

Artigo

Rebecca Denova
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 15 Março 2018
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Disponível noutras línguas: Inglês, Árabe, francês, espanhol, Turco

Surgindo a partir de uma pequena seita judaica no primeiro século d.C., o cristianismo primitivo absorveu muito das tradições religiosas, culturais e intelectuais do mundo greco-romano. Nas histórias da cultura ocidental, a emergência do cristianismo no Império Romano é conhecida como “o triunfo do cristianismo.” Isto é uma referência à vitória das crenças cristãs sobre as alegadamente falsas crenças e práticas do paganismo. No entanto, é importante reconhecer que o cristianismo não surgiu em um vácuo religioso.

Raízes no Judaísmo do Segundo Templo

Os judeus sustentam-se na antiga tradição com códigos de lei para a vida diária (as Leis de Moisés) e revelações de Deus através dos Profetas. Mesmo reconhecendo várias forças no universo, os judeus, no entanto, diferiam de seus vizinhos por somente oferecerem culto (sacrifícios) ao único deus deles, Javé. Após diversas derrotas nacionais pelos assírios em 722 a.C. e babilônios em 587 a.C., seus profetas afirmavam que Deus iria finalmente restaurar Israel à sua antiga independência. Nos “últimos dias” (eschaton em grego), Deus designaria um descendente de David, um “ungido” (Messiah em Hebreu e Christos em grego), que iria conduzir os justos contra os inimigos de Israel. Deus, então, criaria um novo Éden, que veio a ser conhecido como “o Reino de Deus”.

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Após uma curta rebelião contra o domínio grego (a Revolta dos Macabeus, 167 a.C.), Galileia e Judeia foram conquistadas por Roma (63 a.C.). Por volta do século I d.C., muitas pessoas se dizendo messias estimulavam os judeus a apelarem a Deus para ajudá-los a derrotarem os dominadores. Muitos destes pretensos messias foram mortos por Roma por agitarem multidões contra a lei e a ordem. Uma seita de judeus conhecida como Zelotes convenceu a nação a se rebelar contra Roma em 66 d.C., que terminou na destruição de Jerusalém e do Templo (70 d.C.).

Conforme toda evidência, Jesus de Nazaré foi um pregador do Fim dos Tempos, ou um Profeta do Apocalipse, proclamando que o Reino de Deus estava próximo. Ele foi crucificado por Roma (entre 26-36 d.C.), talvez por agitar multidões no festival da Páscoa. A crucificação era uma pena para rebeldes e traidores e pregar um reino que não Roma era subversão. Logo após sua morte, seus discípulos diziam que Ele havia ressuscitado. Seja qual for esta experiência, ela os motivou à missão de difundir as “boas novas” (“evangelho”) de o Reino de Deus logo chegaria.

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Jesus Christ Pantokrator
Jesus Cristo Pantocrator
Hardscarf (CC BY-NC-SA)

Os seguidores de Jesus, primeiramente, levaram esta mensagem às comunidades nas sinagogas judaicas na parte Oriental do Império Romano. Muitos judeus não acreditavam que Jesus era o esperado Messias, porém para surpresa destes apóstolos (mensageiros), os gentios (pagãos) queriam unir-se ao movimento. Esta inesperada ocorrência fez surgir a questão da inclusão: deveriam estes pagãos tornarem-se primeiro judeus, exigindo circuncisão, leis dietéticas e observação do sábado? Em uma reunião em Jerusalém (c.49 d.C. o Concílio Apostólico), ficou decidido que os pagãos podiam aderir sem se tornarem judeus. No entanto, deveriam observar alguns princípios judaicos como retirar o sangue da carne, moralidade sexual e o abandono da idolatria (Atos 15). Ao final do século I, os gentios-cristãos dominavam os Christianoi (“os seguidores de Cristo”).

Paulo, um fariseu, foi o fundador de muitas dessas comunidades. Ele afirma que Jesus lhe disse em uma visão para ser seu “apóstolo para os gentios”. Jesus estava agora no Céu, mas poderia logo retornar. Este conceito era conhecido como parousia (ou “segunda aparição”) e racionalizou o problema do Reino não aparecer durante o tempo de Jesus na Terra e o que os profetas proclamavam deveria ser cumprido com seu retorno. Naquela época, a sociedade (e suas convenções sociais e distinções de classe) seriam transformadas.

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os judeus podiam reconhecer a elevação de jesus ao céu como uma recompensa pela morte em martírio, mas colocar jesus no mesmo nível como deus criou uma barreira entre judeus e cristãos.

Com a crença de que Jesus se encontra agora no Céu, Cristo tornou-se um objeto de culto. Paulo afirmava que Cristo esteve presente na criação e que “todo joelho deveria se dobrar” perante Ele (Filipenses 2). No quarto Evangelho de João, Cristo foi identificado como o princípio filosófico do logos, ou o princípio racional do Universo que se tornou carne (doutrina da Encarnação). Possuímos muito pouca informação de como os cristãos primitivos prestavam culto a Cristo. Culto no mundo antigo consistia em sacrifícios. Para os judeus (e então aos cristãos), este elemento foi removido com a destruição do Templo em 70 d.C. Ao mesmo tempo, cristãos ex-pagãos cessaram os tradicionais sacrifícios dos cultos nativos.

Nos Atos dos Apóstolos, temos relatos de Pedro e João curando pessoas “em nome de Jesus.” Havia um rito de iniciação de batismo, hinos e preces a Cristo e uma refeição conhecida como a Última Ceia, um memorial do último ensinamento de Jesus. Os cristãos se dirigiam a Jesus como “Senhor”, o que também era um título judaico para Deus. Os judeus podiam reconhecer a elevação de Jesus ao Céu como uma recompensa pela morte do mártir, mas colocando Jesus no mesmo nível como Deus criou uma barreira entre judeus e cristãos.

Difusão do Cristianismo

Na cultura greco-romana as pessoas afirmavam a identidade étnica a partir dos ancestrais; nascia-se literalmente dentro de seus costumes e crenças. Conversão (mudança de uma visão religiosa do mundo para outra) não era comum pois a religião encontrava-se no “sangue” de cada um. O cristianismo ensinava que ancestrais e linhagem não eram mais relevantes. De acordo com Paulo, fé (pistis. “lealdade”) em Cristo era tudo que se precisava para a salvação. Esta nova ideia resultou em um movimento religioso não mais confinado a uma área geográfica ou a um grupo étnico. O cristianismo tornou-se uma religião com portabilidade e disponível para todos.

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A ideia de salvação era outra inovação. Os judeus haviam articulado a salvação como a restauração da nação de Israel. Os pagãos não possuíam um conceito semelhante, porém alguns se preocupavam com a existência após a morte. Paulo escreveu que a morte de Cristo foi um sacrifício que eliminou a punição pelo pecado de Adão que foi a morte (doutrina da expiação). Para esta primeira geração de cristãos, a morte física não mais era uma realidade e seriam transformados em “corpos espirituais” quando Cristo retornasse (1Cor.15). Com o passar do tempo e Cristo não retornar, os cristãos aceitaram a morte do corpo, porém era prometida uma recompensa no Céu.

Saints Peter and Paul, from a Catacomb Etching
São Pedro e São Paulo, Gravura em uma Catacumba
Anonymous (CC BY-SA)

O cristianismo compartilhava alguns elementos com os cultos dos mistérios (como Demétrio e Dionísio) que foram populares no período helenístico. Estes cultos exigiam iniciação e ofereciam informação secreta em uma vida melhorada neste mundo, bem como uma suave transição para um vida boa após a morte. Os mistérios também utilizavam o conceito de um deus que morre e ascende.

O cristianismo não se espalhou durante a noite “como um incêndio”, como já sugerido. Os iniciados passavam três anos aprendendo os ensinamentos cristãos, seguidos do batismo, o qual era normalmente realizado na festa da Páscoa. O iniciando ficava nu, como indicação de uma rejeição de sua vida anterior, submergia-se em água e, então, vestia uma túnica nova em sinal de estar “renascido”. O batismo adulto foi a norma até mais ou menos os séculos IV ou V d.C., quando o batismo infantil se tornou norma devido à elevada mortalidade infantil.

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Spread of Christianity Map (up to 600 CE)
Mapa da Difusão do Cristianismo (até 600 d.C.)
Karyna Mykytiuk (CC BY-NC-SA)

Hierarquia, Celibato e Monasticismo

O cristianismo se espalhou por toda parte, com pequenas comunidades tão distantes como a Bretanha e a África Subsaariana. No entanto, não havia nenhuma autoridade central, como o Vaticano para validar crenças e práticas. Numerosos e diversos grupos existiram por todo o Império. Os bispos comunicavam-se uns com os outros e suas cartas demonstram muitas vezes debates rancorosos.

Os cristãos adotaram o sistema grego de assembleias políticas (ecclesia em grego, igreja em português) e o sistema romano de um supervisor (bispo) de uma de uma província (uma diocese). No primeiro século d.C., os bispos eram eleitos como líderes administrativos. Uma inovação no cargo de bispo ocorreu algum tempo entre o primeiro e o segundo séculos d.C. Os bispos passaram a ter o poder de absolver os pecados por meio da posse por eles do Espírito Santo. Os diáconos inicialmente eram eleitos como ajudantes na distribuição de caridades e, finalmente, tornaram-se sacerdotes.

os pais da igreja expressavam um desdém pelas atitudes dos pagãos a respeito do corpo, iinfluenciados por visões filosóficas semelhantes conhecidas como ascetismo.

A concepção pagã do mundo incluía a importância da fertilidade (das colheitas, rebanhos e povos) para a sobrevivência. A relação sexual era considerada necessária, natural e prazerosa para deuses e humanos. Os Pais da Igreja expressaram um desdém por estas atitudes com relação ao corpo, influenciados por visões filosóficas semelhantes conhecidas como ascetismo. Os líderes da Igreja advogavam o celibato (sem casamento) e castidade (sem relações sexuais) como requisitos para bispos e outras pessoas em posição de liderança.

Fora da liderança, os cristãos eram estimulados a se casarem, reconhecendo a determinação bíblica “crescei-vos e multiplicai-vos”. No entanto, a relação sexual era limitada ao único propósito da procriação. Manter relações sexuais, quando uma mulher era estéril, era uma concessão à luxúria, considerada um pecado e algo que somente os pagãos sexualmente imorais se permitiam.

O auge do ascetismo cristão foi conseguido por Antônio, no Egito (*251 +356) quando voltou as costas à sociedade e foi viver em uma caverna no deserto. Outros seguiram seu exemplo e ficaram conhecidos como Pais do Deserto. Finalmente foram reunidos em monastérios e ofereceram um nível adicional do clero e os educados entre eles copiavam e ilustravam manuscritos cristãos.

Perseguição e Martírio

Tradicionalmente, o Imperador Nero (rein.54 – 68 d.C.) foi o primeiro governante romano a perseguir os cristãos. O historiador romano Tácito (*56 +120 d.C.) dizia que Nero culpava os cristãos pelo Grande Incêndio de Roma em 64 d.C., embora ele não fosse uma testemunha para os eventos. No entanto, a história tornou-se incrustrada nos relatos históricos do cristianismo. Se Nero realmente mandou executar os cristãos, isto não fazia parte da política romana oficial daquela época.

A decisão para perseguir os cristãos muito provavelmente começou durante o reinado de Domiciano (rein. 83-93 d.C.). Um tesouro exaurido motivou Domiciano a realizar ações em duas áreas: ele reforçou a cobrança de imposto do Templo dos Judeus e ordenou que se fizessem cultos nos templos imperiais. Após a destruição do templo dos judeus, o pai de Domiciano, Vespasiano (rein.69 - 79), determinou que os judeus continuariam a pagar o imposto do Templo, enviando-o a Roma como reparações de guerra, porém, aparentemente, ninguém havia cumprido esta ordem até o reinado de Domiciano. À procura de sonegadores de impostos entre os judeus, seus funcionários descobriram outro grupo que professava o mesmo Deus, porém não eram judeus e, consequentemente, não responsáveis pelo imposto.

Roman Emperor Domitian, Louvre
O Imperador Romano Domiciano, Louvre
Mary Harrsch (Photographed at the Musée de Louvre) (CC BY-NC-SA)

O Culto Imperial iniciou-se com a deificação de Júlio César após sua morte (44 d.C.). O povo comum considerava que César estava agora “entre os deuses”. Otaviano criou os templos imperiais os quais homenageavam tanto a César, como á família imperial. O Culto Imperial servia como propaganda e arrecadava fundos pela venda de sacerdócios para Roma. Domiciano insistiu em que fosse chamado como “Senhor e Deus” e determinou que cada um participasse do culto a ele. Os judeus receberam isenção de participarem dos cultos tradicionais a Júlio César como uma recompensa pelos mercenários judeus. No entanto, os cristãos não receberam o “cartão livra-cadeia.”

Os cristãos foram acusados com o crime de ateísmo. A recusa deles em acalmar os deuses com sacrifícios foi visto como uma ameaça à prosperidade do Império, o que equivalia a traição. Os cristãos foram executados em arenas, muitas vezes sendo destroçados a marteladas e servindo de alimento aos leões. Leões e outros animais selvagens eram utilizados nos jogos venatio por caçadores especialmente treinados (bestiarii). Era mais conveniente utilizar estes animais como carrascos para o estado.

Os cristãos tomaram emprestado o conceito de martírio do judaísmo, onde qualquer um que morresse por sua fé era imediatamente levado à presença de Deus. O martírio tornou-se muito atrativo para os cristãos e muitas histórias eram contadas a respeito da bravura e convicção dos mártires em face da morte. Tal devoção serviu como propaganda para a fé.

Apesar da tradição cristã (e de Hollywood), a perseguição nunca fora assunto dos amplos éditos do Império até a segunda metade do séculos III e do início do IV d.C. Nem mesmo três mil vítimas. Em 300 anos, temos registros que indicam a natureza esporádica da perseguição que dependia das circunstâncias. Sempre que havia uma crise (invasão estrangeira, fome, praga) os cristãos transformavam-se em bode expiatório pela irritação dos deuses. No intermezzo, os romanos deixavam os cristãos quietos na maior parte do tempo.

The Growth of Christianity in the Roman Empire
O Crescimento do Cristianismo no Império Romano
Simeon Netchev (CC BY-NC-SA)

Ortodoxia e Heresia

O mundo pagão aceitava a pluralidade de abordagens aos deuses, com ênfase nos rituais corretos do que qualquer consenso na doutrina. Os Pais da Igreja do século II d.C. desenvolveram uma inovação com o conceito de ortodoxia ou a ideia de que havia somente uma “crença correta”. Isto se combinava com seu oposto polar, heresia (grego, airesis, ou “escolha”, como em uma escolha de uma filosofia particular).

Sob o guarda-chuva do termo, “gnósticos”, alguns cristãos ofereciam uma visão diferente tanto do Universo, como da salvação em Cristo (do grego, gmosis, “conhecimento”). Para muitos gnósticos, toda matéria no universo físico era má, incluindo o corpo humano. Cristo não se manifesta em um corpo e, portanto, a crucificação e ressurreição não eram importantes para a salvação. Ao contrário, Cristo somente apareceu na forma humana (docetismo) para revelar que os humanos continham uma centelha divina de Deus que foi aprisionada no corpo. Os ensinamentos de Jesus forneciam a chave para liberar esta centelha e ajudar no retorno à sua fonte.

Literatura Adversa: Uma Identidade Separada do Judaísmo

Um tipo específico de literatura surgiu no século II d.C. dirigida contra os judeus e o judaísmo, coincidindo com elevação na perseguição de cristãos. Os cristãos julgavam que deveriam ser isentos dos cultos do estado como os judeus, porque cristãos eram o verus Israel, a “verdadeira Israel”. A interpretação das Escrituras Judaicas por meio de alegorias, demonstraram que sempre que Deus aparecia nas Escrituras, na verdade era Cristo na forma pré-existente. Pretendiam, também, que as Escrituras também lhes pertenciam e uma “nova Aliança” substituía a antiga. A literatura adversa contribuiu para uma identidade cristã separada e distinta do judaísmo na prática, porém com uma antiga tradição que lhe daria respeito. Estes tratados foram altamente polêmicos, maliciosos e cheios de retórica padrão na época contra um oponente. Infelizmente muitos desses argumentos tornaram-se a base para acusações posteriores contra os judeus na Idade Média e posteriormente.

A Conversão de Constantino

Em 300 d.C., o Imperador Diocleciano (rein.284–305 d.C.) já havia organizado o Império em Ocidental e Oriental. Quando morreu em 306 d.C., vários corregentes disputavam o retorno ao governo de um único homem. No Ocidente, a batalha foi entre Maxêncio (rein.306-312 d.C.) e Constantino I (rein.306-337 d.C.). Constantino posteriormente relatou que na noite da véspera da batalha (na Ponte Milviana em Roma), ele viu um sinal no céu (o chi e rho, as duas primeiras letras de Cristo ou uma cruz) e ouviu uma voz que determinava “in hoc signo vinces” (com este sinal vencerás). Constantino afirmava que havia vencido a batalha com o apoio do Deus cristão.

Constantine I
Constantino I
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Em conjunção com o governante sobrevivente do Oriente, Licinius, foi lançado o Édito de Milão em 1313 d.C., dando aos cristãos o direito de legalmente reunirem-se sem medo de prisão ou perseguição. O cristianismo, naquele momento reuniu os outros cultos pagãos, embora Constantino favorecera os cristãos por meio de isenção de impostos e doação de fundos para construção de igrejas.

Um Império Cristão

Constantino estava interessado tanto em unificar o Império, bem como a Igreja. Ele adotou os ensinamentos dos Pais da Igreja como núcleo da crença cristã. No entanto, um ensinamento controverso por um presbítero de Alexandria, no Egito, Arius, produziu desordens por todo o Império. De acordo com Arius, se Deus criou tudo no Universo, então Cristo era uma criatura e, portanto, subordinado a Deus. Em 325 d.C., Constantino convidou bispos para uma reunião em Nicéa para definir as relações entre Deus e Cristo. O resultado foi o Credo Niceno, uma lista de dogmas que todos cristãos deviam confessar. Deus e Cristo eram a “mesma essência”, ambos participaram na criação e, portanto, o monoteísmo foi mantido: Deus era um com três manifestações. Com o Espírito Santo de Deus como manifestação da divindade sobre a Terra, o que ficou conhecido como a doutrina da Trindade. Os cristãos que desafiassem estas crenças eram considerados hereges, que no momento equivaleria a traição. Uma não-conformidade ameaçava a prosperidade do Imperador e Império cristãos.

Holy Trinity
Trindade Sagrada
Fr Lawrence Lew, O.P. (CC BY-NC-ND)

Em 381 d.C., Teodósio I publicou um édito banindo todos os cultos, exceto o cristianismo. Em 390 d.C., ele determinou a interrupção dos Jogos Olímpicos, dedicados aos antigos deuses e o fechamento de santuários e templos pagãos. Alguns destes templos foram destruídos, porém outros foram transformados em igrejas cristãs.

Por volta do século IV d.C., os cristãos combinaram o conceito judaico do martírio com os conceitos greco-romanos de deuses e deusas protetores de vilarejos e cidades. Mártires cristãos passaram a ser compreendidos em uma posição semelhante a mediadores no Céu. A prática da peregrinação às suas tumbas veio a se tornar “o culto dos Santos.”

Quando Constantino mudou a capital para Constantinopla em 330 d.C., isto criou um vácuo de liderança no Ocidente. Por volta do século V d.C., o bispo de Roma absorveu a liderança secular também, agora como o título de Papa. No Império do Oriente (Bizâncio), o Imperador permaneceu o Chefe do Estado, bem como o cabeça da Igreja até a conquista de Constantinopla (Istambul) pelos turcos em 1453.

Por que o cristianismo teve um excelente sucesso? A conversão de Constantino certamente forneceu razões práticas para os pagãos adotarem a nova religião. No entanto, ao introduzir inovações, o cristianismo, porém, absorveu muitos elementos da cultura greco-romana, os quais, indubitavelmente, ajudaram a transformar os indivíduos de uma visão do mundo para outra.

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Rebecca Denova
Rebecca I. Denova, Ph.D. é Professora Emérita de Cristianismo Primitivo no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Pittsburgh. Ela escreveu recentemente um livro didático, "The Origins of Christianity and the New Testament" [As Origens do Cristianismo e do Novo Testamento], publicado pela Wiley-Blackwell.

Citar este trabalho

Estilo APA

Denova, R. (2018, Março 15). Cristianismo Primitivo [Early Christianity]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1205/cristianismo-primitivo/

Estilo Chicago

Denova, Rebecca. "Cristianismo Primitivo." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação Março 15, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-1205/cristianismo-primitivo/.

Estilo MLA

Denova, Rebecca. "Cristianismo Primitivo." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 15 Mar 2018. Web. 27 Abr 2024.